sábado, 29 de outubro de 2011

Identidade Cultural e Memória Social do indivíduo em prol dos Bens Culturais.


Por Astromônico Santana Lima

Catedral Metropolitana - Aracaju/SE
Cônscios de nossas raízes, da importância de vivermos em família e entendermos o significado das palavras que norteiam a sua constituição (pai, mãe, esposa, filho, filhas, irmãos, irmãs...), de acreditarmos na vida sendo regida por um ser Superior, complacente e inigualavelmente poderoso, que está conosco em todos os momentos e em quaisquer lugares por que passamos (mesmo que não percebamos), disposto a conduzir-nos à felicidade colimada, sem, no entanto, nada nos exigir, a não ser um pouco de compreensão, de paciência, de solidariedade, de atenção, para com o próximo, torna-se bastante tranqüila, em nós, a absorção dos bens culturais como algo de fundamental importância para uma comunidade, um grupo social e/ou uma sociedade em geral, e não simplesmente como um patrimônio desconstituído de significação.
A formação do caráter do homem não se inicia a partir do seu ingresso na academia. Ela é concebida desde a sua tenra idade e vai se desenvolvendo no dia a dia, de maneira coerente ou não, a depender da forma que cada partícipe da família obedeça ou não às orientações transmitidas por seus pais, que num contexto geral são de extrema validade para a definição de sua personalidade.
Museu Olímpio Campos
Ocorre que, hodiernamente, com toda essa evolução tecnológica pela qual vivenciamos, em pleno Século XXI, nota-se que há uma crescente margem de jovens que não têm uma linha de conduta pautada no respeito e na obediência aos seus genitores, e isso implica diretamente em uma problemática bastante significativa, que não deve ser olvidada, posto que irá proporcionar sérias conseqüências para a sociedade, em um futuro iminente, ou seja, um elevado número de jovens totalmente alienados, facilmente conduzidos por terceiros de má-fé. Exemplificando: Quando entramos na academia, nos deparamos com uma multiplicidade de culturas (seja no campo das idéias, dos ideais, dos pensamentos, das religiões, da sexualidade...), e se a personalidade nossa não tiver sido trabalhada, preparada (ou se não tivermos dado a devida relevância aos ensinamentos dos nossos pais) – antes de adentrarmos a academia – para lidarmos com essa diversidade, corre-se o risco de abdicarmos o nosso modo de vida para simplesmente seguirmos uma direção que não havia sido projetada. Faz-se premente e necessário que tenhamos uma postura digna e não soframos influência negativa de A ou B, e se ainda não a possuímos, que sigamos sempre os bons exemplos, os quais se não estiverem em nossos lares podemos extraí-los em outras fontes - um amigo, um vizinho, um médico, um personagem de um livro, ou algum indivíduo que, mesmo de forma fictícia, sirva-nos de paradigma comportamental e integridade moral a ser copiado. Percebe-se que a grande maioria dos doutores de academias propaga, de forma não inocente, o seu ceticismo. Agucemos o nosso intelecto e não nos permitamos dar credibilidade a isso. Não é pelo fato de sua maioria professar uma heresia patente, que devemos seguir essa onda. Pelo contrário, devemos adotar, em nossas vidas, uma linha de conduta com bastante coerência, munidos de fé, coragem, inteligência, força e consciência dos nossos desígnios, rumo à consecução das nossas metas, pois acreditamos que muitos deles – por trás de uma aparente auto-suficiência – são, meramente, seres frágeis e sem norte. No entanto, admitamos, são capazes de conduzir os mais desavisados para esse abismo inexorável.        
Igreja Nossa Senhora do Carmo - Ouro Preto/MG
Patrimônio Cultural da Humanidade
Considerando os fatos esposados e que muitos jovens atualmente estão propensos, perigosamente, à influência de terceiros, alcoolismo, sublevação, descrença, imediatismo, sexualidade pervertida, dependência química, desvalorização da família, egocentrismo etc. – frutos da inobservância de seus pais e/ou desvalorização da família – vemos, por conseguinte, como extremamente complexo, fazê-los compreender a relevância dos bens culturais – patrimônio cultural, se não conseguem se identificar, se inserir no contexto social, se estão intrinsecamente vazios, alheios a essa compreensão de mundo, despidos de sensibilidade?
Para haver a valorização do nosso Patrimônio Cultural (conjunto de Bens Culturais), seja de natureza Material (Tangível) ou Imaterial (Intangível), faz-se necessário que tenhamos sentimentos, sensibilidades em torno de algo. Assim, a identidade cultural e memória social desses jovens precisam ser resgatadas, trabalhadas, urgentemente, nas escolas e universidades (e de forma alguma distorcida por essas instituições) para que se reforcem de forma mútua, e tomando consciência do que os distingue ou não de outros grupos sociais, possam tornar-se profícuos para a manutenção dos seus Bens Culturais. Resta, portanto, que sejam implementadas políticas de construção de identidades culturais para reforçar a memória social daqueles que a possuem e principalmente fazer com que os que não a detenham, tomem posse dos seus valores, dos seus costumes, de suas manifestações e haja, conseqüentemente, continuidade de sua história (passando, sucessivamente, de pai para filho).


RELATÓRIO – I VISITA TÉCNICA FAZENDA TEJUPEBA

Nossa Senhora de Lourdes - interior da residência da família Mandarino
foto: Márcia Sierra 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS
Curso: História – Licenciatura Noturno / 2011.2
Profº. Doutor Antônio Lindvaldo Sousa
Profº. Doutorando Claudefranklin Monteiro Santos
Acadêmico: Astromônico Santana Lima
  
APRESENTAÇÃO

O presente Relatório trata-se de visita realizada na Fazenda Tejupeba, situada no município de Itaporanga D’Ajuda (40 km da capital), no Estado de Sergipe, na Rodovia Humberto Mandarino, que liga a BR-101 à praia da Caueira, no dia 15 de outubro de 2011, entre às 9 h 50 min e 11 h 40 min, relacionada a atividades complementares das Disciplinas Temas de História de Sergipe I e Patrimônio Cultural, ministradas, respectivamente, pelos Profºs. Doutor Antônio Lindvaldo Sousa e pelo Doutorando Claudefranklin Monteiro Santos, e tem como desiderato resgatar parte da Historiografia e do Patrimônio Cultural de Sergipe a fim de reacender a memória social e manter viva a nossa identidade.

RELATO NARRATIVO-DESCRITIVO

Tejupeba - Alunos, Monitores e Professores
foto: Márcia Sierra
Ao adentrarmos a Fazenda Tejupeba, os mestres retromencionados, auxiliados pelos seus monitores, organizaram uma dinâmica, onde a turma - composta por trinta acadêmicos - foi dividida em três grupos, cuja incumbência de cada um deles (por trás da busca de uma barra de cereais escondida) relacionava-se à verificação particularizada das impressões das edificações que constituem a Fazenda Tejupeba (Casa, Igreja e Senzala). Tendo sido encontradas pelos grupos as respectivas barras de cereais, todos reuniram-se embaixo de uma árvore frutífera (mangueira) para que cada um dos grupos explicitasse aos demais às suas impressões acerca da edificação visitada.
Alunos que visitaram a senzala e moradores
foto: Márcia Sierra
O grupo que visitou a senzala teve as seguintes impressões sobre o local: o complexo é formado por três blocos, sendo que os menores são formados por residências bem distribuídas. Diferentemente de outras senzalas, as de Tejupeba são divididas por cômodos, cada uma das senzalas menores contém 1 (uma) janela e 1 (uma) porta e as senzalas maiores contêm 2 (duas) janelas e 1 (uma) porta, todas mantendo a cor padrão, branco nas paredes e verde colonial nas portas e janelas.
Senzala
foto: Márcia Sierra
 Verificou-se ainda, em contato com os atuais moradores, que eles, infelizmente, não têm o mínimo conhecimento do que se passou, do que ocorreu, do que simboliza, do que representa para a História de Sergipe esse local. O Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa interveio na explanação do grupo para explicar que as senzalas eram separadas e/ou divididas por cômodos porque foi na época da Lei Eusébio de Queirós, onde ficou proibida a compra de escravos, que estavam cada vez mais caros, e a solução encontrada foi respeitar os casais existentes na fazenda e dar condições para que procriassem e permanecessem no local. Esse grupo encontrou a barra de cereais em uma árvore próxima à senzala.
Igreja Nossa Senhora de Lourdes - Tejupeba
foto: Márcia Sierra
O grupo que visitou a Igreja destacou as seguintes impressões acerca da edificação: restos mortais de nobres que fizeram parte da história local e eram sepultados dentro da Igreja; divisões internas da Igreja, que é separada por paredes, dando a clara impressão, que tinha como objetivo a segregação dos nobres e dos escravos, que não poderiam se misturar; o pavimento mais elevado seria destinado aos nobres; Perceberam também que a Igreja é composta por muitas janelas e portas, possuindo 2 (duas) torres e 3 (três) pisos, porém as torres não tinham sinos, o que, de pronto, foi esclarecido por uma das moradoras do local, informando que os sinos haviam sido retirados e estavam guardados em lugar adequado. A barra de cereais foi encontrada no altar.
Colégio de Tejupeba
foto: Márcia Sierra
O grupo que visitou a Casa Colégio (antiga morada dos jesuítas) relatou as seguintes impressões: a Casa Colégio é dividida em vários cômodos e colunas (sempre com muitas janelas), três pisos e muitas salas; o piso é de madeira e não pode (ô) ser muito explorado porque muitas madeiras estavam comprometidas. A barra de cereais foi encontrada num compartimento de difícil acesso e o grupo precisou de auxílio.
Tendo sido colocadas as impressões dos grupos, o Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa buscou elucidar algumas questões levantadas pelos grupos e adicionar outras relevantes e atinentes ao tema. Assim, enfatizou que naquela época (Século XVII) os mortos eram enterrados, a depender da sua importância, dentro ou fora da Igreja, e tão-somente a partir da Proclamação da República é que foram criados os cemitérios civis. Informou que com a chegada dos jesuítas em Sergipe, as características das edificações que construíam foram mantidas, como um conjunto arquitetônico, preservando sempre as mesmas cores, bem como havendo distância entre as construções, que objetivavam a realização das procissões. Como não existia energia, as casas tinham muitas janelas grandes o que facilitava a iluminação e a ventilação. Os escravos eram índios e não negros africanos.
Ato contínuo, foi dada a palavra para o Profº. Doutorando Claudefranklin Monteiro Santos, que teceu algumas observações bastante pertinentes às colocações feitas pelos grupos, encerrando a sua fala com o tema legislação patrimonial. Inicialmente, fez questão de frisar que a Fazenda Iolanda é um local bem apropriado para que possamos entender a dificuldade para aplicação da legislação patrimonial e aquilo que se pode perceber, muitas vezes, da frieza e dureza da lei. Elogiou, concordando com a colocação do Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa quando comentou que mesmo tendo ido várias vezes a Fazenda Iolanda sempre se tem uma coisa nova, diferente para se observar. Nos advertiu, o Profº. Doutorando Claudefranklin Monteiro Santos, que no decorrer do curso devemos aprender a treinar o olhar, a sermos mais observadores, e que essa dinâmica que vem sendo feita há alguns anos pelo Profº. Doutor Antônio Lindvaldo Sousa, em dividir os grupos para instigar a nossa observação, trata-se de uma habilidade que temos que adquirir no transcorrer do curso.
Falou acerca da obra de Murilo Marques – Brasil Terra de Quem – onde o autor mostra como as povoações brasileiras foram constituídas durante o período colonial. O referido autor percebeu, ao usar o conceito de patrimônio religioso, que a igreja foi responsável pela expansão dos núcleos populacionais brasileiros. E Sergipe não foi diferente. Lembrou que a Igreja e o Estado estavam juntos, em decorrência do padroado, e as ações de um eram, na verdade, as ações do outro. Disse que na apresentação do livro do Péricles o professor Francisco enfatizou que mesmo na Proclamação da República – com a separação da Igreja e Estado - a Igreja ainda continuou influenciando decisivamente nas questões de Sergipe. Assim, Sergipe se destoou do resto do País.
Registrou que a vinda dos jesuítas para Sergipe fazia parte de um projeto de expansão do poderio português, quer dizer os padres acabavam fazendo às vezes do Estado e se confundia com o Estado porque era o próprio Estado. Embora não tenham surgido cidades a partir de Tejupeba, as cidades surgiam, justamente assim, de uma capela ou de uma igreja, dedicada a um santo, a uma devoção, e daí todo o processo de expansão populacional, principalmente nas zonas urbanas. Tejupeba, porém, sempre manteve as características de um local eminentemente rural. Informou que o conjunto Fazenda Iolanda (Casa, Igreja, Senzala e o entorno) começou a ser construído no Século XVII e vem se modificando ao longo dos anos.
Ressaltou a importância de perceber que o espaço físico é um conjunto composto de vários extratos de memória e de história. Que a Fazenda Iolanda não deve ser vista apenas como uma reminiscência dos séculos XVII, XVIII, mas também dos séculos XIX e XX, pois várias camadas de história vão se assentando e se postando no espaço. Que ao lado da Igreja verifica-se uma casa típica do século XXI. Assim, nota-se a importância do historiador treinar o olhar e perceber como esses extratos são construídos, uma vez que, como foi visto em Patrimônio Cultural, não podemos considerar o conceito de cultura como algo estático, a idéia de preservação não significa ficar a coisa parada – há dinâmica humana.
Com relação aos sepultamentos, mencionou a obra de João José Reis – A Morte é uma Festa – alegando que essa obra tem várias passagens mostrando a importância do sepultamento. Advertiu para observarmos a data de algum sepultamento dentro da Igreja, pois ali se demarca o momento em que os sepultamentos foram proibidos dentro das igrejas por questões higiênicas e isso ocorreu no final do século xix, onde surge a idéia de cemitérios. Frisou que as pessoas que tinham mais posses evidentemente eram sepultadas próximo ao altar, na sacristia, ou seja, nos locais considerados mais sagrados, já aquelas que não tinham condições eram enterradas em qualquer lugar. Concluindo as suas argumentações, destacou a questão da legislação patrimonial, informando que a Fazenda atualmente é chamada de Iolanda e que é um exemplo típico de que tombamento não é garantia de proteção do bem cultural. Esse tombamento se deu em 1943 pelo IPHAN.
Deixou claro que o tombamento desse local não é o tombamento somente da Igreja ou do espaço que nós chamamos de Colégio, de Residência dos Jesuítas, esse tombamento tem uma característica especial, é o tombamento desses aspectos arquitetônicos, arquitetura patrimonial, e o seu entorno.  Asseverou que Murilo Marques mostra porque há esses espaços tão abertos em torno da capela ou igreja, uma vez que está no local mais destacado do terreno e esses locais, que chamamos de átrio, eram os espaços de manifestação das tradições.
Nos esclareceu que depois do desabamento do telhado, César Mandarino, preocupado, e tendo, evidentemente, recursos monetários privilegiados, colocou, inadvertidamente (porém, bem-intencionado), um telhado distinto das condições requeridas pelo IPHAN, ou seja, telhado novo de maracatiara, com telha moderna. Conseqüentemente, deparou-se com um sério entrave jurídico.
Citou a obra de Sônia Rabelo – Tombamento – o Estado na Preservação de Bens Culturais, onde a autora faz uma análise da legislação patrimonial. Fez alusão ao Decreto-Lei nº 25, de 1937, que está em vigor no Brasil e representa a primeira legislação sobre tombamento. No seu art. 17 dispõe que “As coisas tombadas não poderão em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, ser reparadas, pintadas ou restauradas sob pena de multa de 50% do dano causado. No caso específico de Tejupeba ou Fazenda Iolanda, o Ministério Público interpretou essa interferência do proprietário como uma espécie de mutilação, por isso, foi processado e continua respondendo judicialmente por tal atitude.
Sobre essa temática, Sônia Rabelo alega que “se existe a proibição de alterar o bem tombado sem autorização da autoridade competente, aquele que viola esta determinação estará cometendo infração à norma legal, ainda que a sua alteração venha posteriormente a ser considerada admissível”.
Quanto ao seu desfecho jurídico, o Profº. Doutorando Claudefranklin Monteiro Santos, acredita que o proprietário, embora tenha infringido a lei, será absolvido da acusação de mutilação do patrimônio, por ter agido de boa-fé. Informa que há um projeto detalhado de reforma do espaço Fazenda Iolanda, que se encontra, segundo o IPHAN, no Ministério do Planejamento, aguardando dotação orçamentária. Esperançoso, enfatizou  que existe um preceito legal da legislação patrimonial que pode agilizar esse processo, o qual diz o seguinte: patrimônios culturais em riscos têm prioridade, mesmo em período de escassez orçamentária.
Por fim, observou que a existência de tantas janelas e tantas portas nas edificações dos jesuítas na Fazenda era para uma melhor luminosidade e ventilação, afinal não havia ar-condicionado, as paredes eram grossas e era necessário que esse vento circulasse, e as construções eram posicionadas a permitir a iluminação.
Alunas apresentando o Seminário Jesuítas
e a Colonização de Sergipe
foto: Márcia Sierra
Isto posto, deu-se início ao Seminário: Jesuítas e a Colonização de Sergipe, o qual foi presidido pelas acadêmicas do Curso de História – Licenciatura Noturno (2011.2) – Marise Isabel Dantas Souza, Josicarla Machado, Valéria Araújo e Vanessa Gonçalves,  que, em síntese, explanaram a importância da Fazenda Tejupeba para a História de Sergipe, como também a participação dos jesuítas no processo de catequização dos índios e colonização do Estado. As seminaristas utilizaram-se de recursos oral e folder – e abordaram a temática dentro da seguinte contextualização:
O seminário teve como objetivo mostrar não só a importância da Fazenda Tejupeba para a história de Sergipe, como também a participação dos jesuítas no processo de catequização dos índios e colonização do estado.
Alguns padres jesuítas chegaram ao Brasil por volta do ano de 1549 na expedição chefiada por Tomé de Souza. Com a missão de catequizar e educar os índios os jesuítas se expandiram por todo o território brasileiro. No entanto essa ordem regular de expansão era subordinada ao Estado português, conforme os preceitos do Padroado Régio (conferia ao rei poderes sobre todos os cargos eclesiásticos na colônia, os bispos de Roma  e demais sacerdotes). Na verdade, os jesuítas, munidos da fé cristã, estavam totalmente comprometidos com a programação estabelecida pelo rei dom João III.
Nesse diapasão, GLÓRIA KOK evidencia que “as almas e as riquezas materiais configuram-se como integrantes de um projeto único: o de enriquecer a Metrópole espiritualmente com as almas e financeiramente com as benesses fornecidas pela natureza” (KOK, 2001, P. 76). A concepção missionária  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil  colônia  era  transformar  índios, através  do  ensino, em bons  cristãos.  Instruí-los  nos  hábitos  de  trabalho  dos  europeus,  e transformá-los em cidadãos flexíveis a coroa Portuguesa.
Não se pode negar que a vinda dos jesuítas para o Brasil está intrinsecamente relacionada com o movimento denominado Reforma Protestante, liderado por Martinho Lutero, de significativa repercussão, que redundou na motivação da Igreja Católica a dar início a Contra-Reforma (movimento repressor). Assim, a forte expansão do movimento de catequese pelos jesuítas aqui no Brasil - grande colônia Portuguesa - ocorreu certamente como uma reação ao crescimento da influência das idéias luteranas, tendo como escopo combater a expansão do protestantismo e as críticas Reformistas.
No Estado de Sergipe, a presença da Companhia de Jesus é datada de 1575, e foi comandada pelo padre jesuíta Gaspar Lourenço, o qual construiu várias igrejas,  expandiu a catequese, e introduziu símbolos e rituais da Igreja Católica no dia a dia dos índios. Dentre as missões constituídas por Gaspar Lourenço, podemos citar: São Thomé (6 léguas distantes do rio Real), Santo Inácio (10 léguas para o Norte as  margens  do  rio Vaza-Barris),  e São Paulo, junto ao litoral obtendo o apoio dos grandes caciques Serigi, Surubi e Aperipê.   
Gaspar Lourenço quando adentrou as terras de Sergipe tinha 40 anos de idade e foi discípulo do Pe. Jesuíta José de Anchieta. Portanto, ele não poderia ser considerado um neófito. Um dos seus expedientes para atrair os índios era a música, catecismo e diversos rituais cristãos.
Ressalte-se que no ano de 1576 a fase inicial de catequização dos índios por parte dos jesuítas tornou-se extremamente dramática e, certamente, interrompida provisoriamente, uma vez que o então governador da Bahia, Luiz de Brito, veio a Sergipe confrontar-se com os índios e as conseqüências dessa empreitada militar não foram nada satisfatórias para a Companhia de Jesus, em que houve, além do extermínio de muitos índios, a escravização de mais de 1000 gentios, sendo os mesmos transportados para a Bahia. As esperanças catequéticas dos jesuítas em nossas terras só foram retomadas em 1590 (conquista de Sergipe), com Cristóvão de Barros. Nessa volta a Tejupeba, os jesuítas tinham a intenção não só de catequizar os índios como também de criar gado.
Rio Vaza-Barris
foto: Márcia Sierra
Não por acaso, a localização de Tejupeba foi planejada pela proximidade com o rio Vaza-Barris e pelo monte, onde foi construída a igreja. Por ser uma área mais elevada da região, facilitava a visualização da chegada de inimigos, que vinham para atacar a fazenda. No tocante ao alusivo rio, caso algum barco se aproximasse do local os jesuítas tinham a visão geral da área e do seu inimigo, uma vez que estavam em pontos estratégicos. Tejupeba muito se destacou, no cenário nacional, mormente pela construção de embarcações, visto que a região era formada por mata que possuía madeiras de boa qualidade, e muitos jesuítas, inclusive, eram especialistas na construção de barcos.
A arquitetura da Fazenda segue os padrões das construções dos jesuítas e o seu poderio arquitetônico. Após a expulsão dos jesuítas, pelo Marquês de Pombal, em 1759, a Fazenda Tejupeba passou a ser engenho, e em 1764 as terras foram arrematadas por Nicola Mandarino, em 1920 o proprietário tomou posse e deu o nome de Fazenda Iolanda, em homenagem a uma de suas filhas. A mesma foi tombada em 1943, no entanto, evidencia-se a ausência de preservação.
Complexo Arquitetônico da Fazenda Tejupeba. 
foto: Márcia Sierra
As terras que pertenciam aos jesuítas foram-lhes doadas pelas sesmarias. Assim, construíram um complexo arquitetônico formado pela igreja Nossa Senhora de Lourdes,  pelo Colégio, que servia como referência Cristã. A Fazenda foi arrematada no transcurso dos anos pelas famílias Dias, Coelho, Melo e Mandarino. 
Oportunamente, o profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa ressaltou que em Tomar do Geru existe uma capela que até hoje impressiona pela riqueza da obra construída, com suas paredes banhadas a ouro, e, ao contrário da Igreja de Tejupeba, Tomar do Geru transformou-se em uma cidade construída ao redor da Igreja. Salientou ainda que os jesuítas tiveram duas atuações em Sergipe:  uma como catequizadores e outra como fazendeiros; e, em outro momento de pouca importância para Sergipe, a plantação da cana de açúcar, no final do Século XVIII. Foi perquirido pelo aludido professor com quem teriam ficado as terras dos jesuítas, já que foram expulsos de Sergipe.  Respondendo ao seu próprio questionamento, informou-nos que a expulsão ocorreu em 1759 com a Carta Régia do Marquês de Pombal, que determinava a prisão de um padre em Tejupeba e dois em Jaboatão, finalizando o processo de expulsão e participação dos jesuítas em Sergipe e que todas as terras que eram dos jesuítas passaram para particulares. Isso ocorreu num período em que a Europa vivia a fase do iluminismo onde disseminaram a idéia de que a Igreja trazia as trevas e, por isso, os religiosos deveriam ser expulsos do campo educacional e no lugar deles colocariam professores leigos. O Marquês de Pombal é considerado um dos grandes heróis em Portugal, pois tentou varrer, não só de Sergipe, como do Brasil, todos os jesuítas. Com relação à Fazenda Tejupeba, nos esclareceu que os primeiros particulares estão enterrados detrás da Sacristia, como o Barão e a Baronesa de Estância, e eles ocuparam as terras dos jesuítas e utilizavam como fazendas.

IMPRESSÕES DE VIAGEM

Profº. Dr.  Antônio Lindvaldo e alunos
foto: Márcia Sierra 
A viagem a Fazenda Tejupeba ou Fazenda Iolanda, como é denominada atualmente, muito contribuiu para o nosso enriquecimento acadêmico, tanto no aspecto Histórico quanto no aspecto Patrimonial. Os nossos mestres, de Temas de História de Sergipe I e Patrimônio Cultural, com muita sabedoria, fizeram-nos compreender a grandeza e relevância da Fazenda Tejupeba, efetivamente tombada, por ser um marco da historiografia sergipana, conscientizando-nos da extrema necessidade de preservação desse Patrimônio Cultural, inscrito no Livro Histórico sob o nº 213, datado de 21.5.1943 (Processo nº 0289-T-41), o qual, embora esteja sob a égide legal do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN relaciona-se a um exemplo típico de que o simples tombamento não assegura a preservação do bem patrimonial, e que a lei, por si mesma e com a sua frieza, não diz nada. É preciso que os seus operadores saibam, queiram e tenham compromissos com a sociedade para conduzi-la de forma lógica, justa e honesta.
Leandro, Profº Claudefranklin e Astromônico
foto: Márcia Sierra
Destarte, compete-nos propagar esse monumento histórico, edificado no início do Século XVII, símbolo marcante da atuação dos jesuítas da Companhia de Jesus (fundada por Inácio de Loyola), para sensibilizar, não somente as autoridades legais pertinentes, como toda a população brasileira no sentido de abraçar essa nobre causa em defesa da nossa memória e identidade, ou seja, não devemos permitir que essa parte relevante da História  se submeta ao esquecimento, mas, sim, seja rememorizada reiteradamente pela sociedade. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

RELATÓRIO - Seminário – Feira de Alimentos: Alimentação Portuguesa.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS
Curso: História – Licenciatura Noturno / 2011.2
Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa
Acadêmico: Astromônico Santana Lima


O presente Relatório faz parte integrante de atividade complementar da Disciplina Temas de História de Sergipe I, ministrada pelo Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, e tem como desiderato inferir o nosso entendimento sobre a importância do Seminário em tela, ocorrido no dia 18 de outubro de 2011, das 19 h 30 min às 19 h 42 min, na Didática 3 – sala 110 – da UFS, cujo tema foi presidido pelos acadêmicos em História Licenciatura Noturno – Rivaldo Ramos Silva e Kleberton Augusto Santana Soares, os quais se utilizaram de recursos oral, folder e vídeo.
A equipe de seminaristas, logo após a exibição de um vídeo no qual teciam, previamente, comentários sobre o que seria tratado no seminário, abordou acerca da origem do ananás (abacaxi) e das frutas laranja, limão e marmelo.
Abacaxi
A partir da descoberta do fruto (abacaxi) por Cristóvão Colombo, no ano de 1493, na ilha de Guadalupe, o mesmo contribuiu para a sua propagação, tornando-se um dos frutos mais apreciados pela população mundial, símbolo das regiões tropicais e subtropicais. A origem da palavra ananás vem de nana, da língua tupi, fruta saborosa, falado pelos nativos que habitavam o litoral do Brasil. Atualmente, essa palavra é usada para designar frutos selvagens ou de desconhecidas variedades. As variedades conhecidas são denominadas abacaxi (ibacati – iba=fruto, cati=que exala cheiro/língua guarani).
Torta de Abacaxi
Trata-se de um fruto bastante especial devido a sua diversificada utilização na culinária nacional, como, por exemplo, no preparo de mousse, tortas, bolos, cremes de abacaxi, sorvetes, doces, gelatina, trufas de abacaxi, suflê de abacaxi, purê de abacaxi, dentre outras sobremesas existentes.
Note-se que o abacaxi apresenta baixa caloria e possui elevadas taxas de vitaminas A, B e C, bem como carboidratos, sais minerais e fibras. Desse fruto tudo pode ser aproveitado. Não é à toa que os índios utilizavam o abacaxi também como propriedade terapêutica, sendo a sua casca e coroa utilizados para combater o veneno proveniente da picada de cobra, além de ser relaxante e diurético. Ademais, usavam o  seu sumo para auxiliar a digestão e manter a pele limpa, e os guerreiros aplicavam preparados do fruto sobre as feridas, e as folhas eram usadas como ligaduras.
 Outrossim, durante o período colonial, os municípios sergipanos de Graccho Cardoso e Aquidabã eram considerados os maiores produtores de abacaxi.
Limão
No tocante ao limão, cujo nome científico é citrus limonium, da família das rutáceas, como a grande maioria dos frutos cítricos, origina-se da Ásia. Inicialmente, o limoeiro era um simples arbusto que se espalhava naturalmente pelo sudeste asiático.
Várias são as versões acerca de como o limão tornou-se conhecido na Europa, a saber: teria sido levado pelos muçulmanos entre os Séculos VII e IX; ou os romanos já conheciam o limão, usando-o como medicamento, antes de ser trazido pelos árabes; outra hipótese sugerida seria que o produto foi introduzido na Europa com as primeiras navegações dos romanos em direção às Índias Orientais.
No caso das Américas, e aí inclui-se o Brasil, o limão chegou junto com os primeiros colonizadores portugueses e espanhóis, no Século XVI. Em todo o País ele é produzido durante todo o ano, embora seja mais produtivo entre os meses de dezembro e maio. As variedades do limão mais conhecidas pelos brasileiros são limão tahiti, limão siciliano, limão galego e limão cravo.
Laranja
Quanto à laranja, tem como o maior produtor do Estado de Sergipe e um dos maiores do País, o município de Boquim. É originária da Índia e a sua versão doce da fruta foi trazida para o Brasil através dos portugueses, que a conheceram na China. Trata-se de uma fruta híbrida, ou seja, criada no passado, a partir do cruzamento da tangerina e do pomelo, sendo bastante rica em sais minerais (fósforo, cálcio e ferro) e vitaminas A, B e C. Algumas das principais espécies conhecidas em nosso País são: laranja-pêra, laranja-lima e laranja-bahia. A laranja é muito utilizada para a produção de doces e sucos, e a própria casca desse produto é aproveitada para receitas diversas.
Marmelo
No que concerne ao marmelo, sua origem é das regiões mais amenas da Ásia Menor e sudeste da Europa. O produto, em Portugal, não é consumido cru, mas cozido, onde normalmente fazem marmelada. Ainda é consumido assado pelos portugueses. Em nosso País, o marmelo é consumido praticamente na forma industrializada e, devido a sua pequena produção local, é importado tanto do Uruguai quanto da Argentina. Saliente-se que as suas sementes podem ser utilizadas como antidiarréico, além do que do marmeleiro também se extrai a vara de marmelo, que era um instrumento de punição muito usado no passado.
No Brasil, o marmeleiro pode ser cultivado desde o Rio Grande do Sul até Minas Gerais.
Ante o exposto, consideramos que o seminário – Feira de Alimentos: Alimentação Portuguesa também atingiu o seu propósito: fazer-nos refletir, entender e aprofundarmos na temática.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

RELATÓRIO - Seminário – Feira de Alimentos: Alimentação Indígena.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS
Curso: História – Licenciatura Noturno / 2011.2
Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa
Acadêmico: Astromônico Santana Lima

O presente Relatório faz parte integrante de atividade complementar da Disciplina Temas de História de Sergipe I, ministrada pelo Profº. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, e tem como desiderato inferir o nosso entendimento sobre a importância do Seminário em tela, ocorrido no dia 18 de outubro de 2011, das 19 h 10 min às 19 h 26 min, na Didática 3 – sala 110 – da UFS, cujo tema foi presidido pelos acadêmicos em História Licenciatura Noturno – Flávio dos Santos Vasconcelos, Leandro Augusto Oliveira de Melo e Leandro Gonçalves da Silva, os quais se utilizaram de recursos oral, folder e vídeo.
A equipe de seminaristas, logo após a exibição de um vídeo com a culinária indígena, abordou acerca do surgimento e/ou origem da mandioca, a importância da mesma como matéria-prima na produção de diversos alimentos, e fizeram alusão, inclusive, sobre a utilização da bebida cauim por parte dos índios.
Economicamente, entende-se que é relevante a cultura da mandioca, tanto na produção de raízes tuberosas feculentas, que representa significativo alimento para a satisfação humana, quanto na fabricação de produtos alimentícios ou de aplicação industrial e produção de álcool.
Extrai-se desse produto, a farinha, a tapioca, o beiju, bebidas alcoólicas. Também se comia na forma de farinha pura, misturada com carne, frutas, vegetais. A macaxeira - mandioca doce – ainda servia de alimento, assada ou cozida. O cultivo e a sofisticada técnica de preparo da raiz, para que se desfaça do ácido cianídrico, venenoso, teriam sido apresentados pelos aruaques aos índios de língua tupi. A mandioca dominava o território brasileiro em 1500 e continua sendo relevante para a economia do País.
Anote-se que a mandioca é uma planta de origem brasileira e, desde o descobrimento do Brasil, já era cultivada pelos índios. Hodiernamente, vem sendo explorada de forma abrangente por este País e pelos países Sul e Centro-Americanos e nas Antilhas. Cultivam de igual forma a mandioca, regiões do planeta de clima tropical e subtropical, como, por exemplo, Ceilão, Filipinas, Java, Tailândia, Madagascar e considerável parte da África. 
Os fins do cultivo da mandioca são bastante diversificados e extremamente relevantes, seja para a produção de raízes para consumo humano, na forma de pratos diversos, seja para ração de bovinos, aves e suínos, seja para as indústrias de raspas (farinhas de raspas e mesa), polvilho azedo ou doce para biscoitos e confeitos, indústrias de papel, papelão e tecidos, dentre outros.
Saliente-se que existem variedades de mandioca – as chamadas “bravas” – que quando ingeridas com ou sem cozimento podem causar intoxicações; outras, por sua vez, como as chamadas variedades “mansas” – macaxeiras ou aipins – não trazem riscos para o consumo humano, mas variados benefícios.
A farinha de mandioca pode-se asseverar que é um alimento que mesmo depois de vários séculos permanece mantendo o seu prestígio popular em diversos universos culturais.
Os vários tipos de farinha de mandioca resultam da prensagem, ralagem e secamento da raiz da mandioca, e a farinha de tapioca ou polvilho, que é feita com o fino amido oriundo da decantação do caldo prensado da massa de mandioca. No Brasil, possui muitos nomes, a depender da região, tais como: mandioca brava  (contém o veneno ácido cianídrico), aipim, castelinha, macaxeira, mandioca doce, mandioca mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, e variedades como aiapuã e caiabana, ou nomes que designam apenas a raiz, como caarina.

Por fim, no que concerne ao cauim, era uma bebida típica dos Tupinambá, com alto teor alcoólico, que continha um gosto semelhante ao leite azedo. Essa bebida também era consumida por outras tribos do Brasil. Para corroborar essa informação, vide texto colacionado do endereço eletrônico www.infopedia.pt/$historia-do-cauim.
“Na base do seu preparo, entram as raízes da mandioca ou do milho, segundo a época do ano, e frutas silvestres diversas. O processo de preparação despertou desde cedo a curiosidade e foi cuidadosamente descrito no século XVI, tanto por portugueses (Fernão Cardim), como por franceses (Jean de Léry). Começavam por cozinhar as raízes da mandioca que depois ferviam até ficarem tenras deixando-as arrefecer em seguida. Mulheres e raparigas virgens, de preferência, as mais bonitas, reuniam-se em redor do recipiente de barro e, à vez, mastigavam a mandioca e cuspiam-na de novo para o recipiente. As enzimas contidas na saliva atuavam sobre as fibras e transformavam-nas em açúcares fermentados. Depois a papa ia de novo ao lume e era mexida com uma colher de pau. Por fim, ficava a fermentar em grandes recipientes de barro até à altura de ser consumido. O mesmo processo era utilizado para fazer a bebida com milho. O cauim podia ser fabricado em qualquer altura do ano, já que os ingredientes de base estavam sempre disponíveis.
As cuinagens eram as reuniões durante as quais os Tupinambás bebiam o cauim. Por vezes, também consumiam a carne dos inimigos capturados e engordados para a ocasião. Mas o consumo da bebida podia ser também feito por uma ou duas pessoas, embora o mais comum fosse em grupo, com dezenas ou centenas de pessoas de várias aldeias. Na ocasião, o cauim era consumido quente e, para isso, as mulheres colocavam o recipiente de barro em fogo lento numa fogueira no centro da aldeia. Enquanto mexiam a bebida opaca e espessa com uma colher de pau, iam-na servindo aos homens que dançavam em círculo. Estes bebiam de uma só vez das suas taças, ao contrário das mulheres que bebiam pausadamente. 
Os missionários jesuítas, para combater o que consideravam costumes infames e incontroláveis, pois as cauinagens conduziam à embriaguez e à sexualidade desenfreada, optaram por converter as mulheres, já que elas representavam um elemento primordial na preparação do cauim. A elas cabiam todas as tarefas ligadas à preparação do cauim, desde a plantação das raízes da mandioca ou do milho, à colheita dos frutos e fermentação da papa até ao fabrico dos recipientes, as cuias onde se servia a bebida. Eram ainda as mulheres que serviam a bebida nas cauinagens. Curiosamente, os atos de antropofagia praticados pelos Tupinambá impressionaram menos os missionários do que os dois primeiros aspectos, a embriaguez e a licenciosidade”.
Ante o exposto, consideramos que o seminário – Feira de Alimentos: Alimentação Indígena atingiu o seu intento maior: fazer-nos refletir, entender e aprofundarmos na temática.




A importância do Patrimônio Cultural - Bens Culturais

Astromônico Santana Lima – 26.09.2011

Capoeira Brasileira
O Patrimônio Cultural deve ser compreendido como algo dinâmico, criativo, transformador, capaz não somente de conduzir uma sociedade ao seu completo enriquecimento cultural como também trazer benefícios significativos para a economia de um Município, de um Estado e de um País. Por que, então, em termos de Brasil, ao invés de importarmos os bens culturais europeus ou americanos, não adotamos uma postura de conservação, de proteção, de preservação dos nossos bens culturais, que constituem o Patrimônio Cultural, com vistas a gerarmos mais renda, emprego, e consequentemente melhoria na vida do povo brasileiro?
Cristo Redentor - Rio de Janeiro/RJ
No que concerne ao turismo, podemos asseverar que, infelizmente, não vem sendo abordado pelo governo brasileiro com a seriedade que o caso em concreto requer. Por corolário, notamos, não com pouca frequência, um total desinteresse pela diversidade cultural pátria, preferindo os nacionais a se locupletarem com a cultura estrangeira, realizando viagens, conhecendo outras localidades, cultuando o Patrimônio Cultural alheio em detrimento da nossa riqueza patrimonial, que não é trabalhada de forma séria pelos governantes. Esse aspecto do Patrimônio Cultural, que atualmente nos deparamos, pode inequivocamente ser modificado com a somação de esforços do Poder Público e da comunidade. Nesse diapasão, é o que dispõe a atual Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 216, inciso v, parágrafo primeiro, a saber: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o Patrimônio Cultural brasileiro (...)”. Destarte, todos nós, como cidadãos, temos a prerrogativa de pleitearmos não só o tombamento – na hipótese em que um grupo social reivindica-o – como também fazermos uso de outras ferramentas importantes na proteção do Patrimônio Cultural e/ou dos Bens Culturais, sejam de natureza artística, ambiental, de valor histórico, que simbolizam sentimentos, identidades, memórias, afetividades perante a sociedade.
Praça São Francisco - São Cristóvão/SE
Ressalte-se que se não houver consonância e esforços mútuos, entre governo e cidadãos, para avançarmos no tocante à proteção e valorização do Patrimônio Cultural, a lei por si mesma tornar-se-á inoperante, havendo, portanto, a necessidade de contar com o respeito, com o acatamento de cada indivíduo, para a obtenção de sua eficácia.
Entendemos que com a propagação e defesa eficientes dos nossos Bens Culturais, do nosso Patrimônio Cultural estaremos contribuindo para o desenvolvimento deste País.