Fichamento
JÚNIOR, Arnaldo Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In História Área de Conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001. Págs. 37-40.
O autor, neste artigo, dispõe-se em evidenciar, baseando-se, dentre outras coisas, nas suas experiências e reflexões como professor de História da rede pública estadual do interior paulista, que o ensino de sua disciplina carece de modernização, uma vez que os métodos adotados são muito tradicionais e precisam de uma nova concepção para que os estudantes sintam-se mais motivados pela História. Assim, sugere “uma abordagem que não esteja vinculada ao estudo histórico conteudista, celebrativo, único e verdadeiro”. (p. 37, parágrafo quarto, linhas 4-7).
Nesse diapasão, traz a lume a importância da história local para o ensino fundamental e médio, creditando a obtenção de um resultado positivo (em prol da história local) à implementação do procedimento de ensino e aprendizagem com fulcro na pesquisa, pois entende que se trata de uma ferramenta motivacional extremamente importante para a produção de conhecimento histórico, numa tarefa mediada pelo próprio professor.
No que concerne à Manchester Paulista (Sorocaba), procura deixar patente que a pesquisa sobre a história local, com esteio no resgate de fontes históricas e memórias coletivas, capacita o estudante – como sujeito histórico – e o faz conscientizar-se de sua relevância para o cenário social, político e cultural. Por corolário, o aluno passa da situação de mero espectador (com o ensino tradicional) para um quadro de dinamicidade e produtividade (adotando o método de pesquisa). Consoante assevera Rodrigues, o conhecimento da história local potencializa uma práxis social:
[...] o cidadão, embora pertencendo à Nação, tem no município suas raízes. É nela que ele nasce, cria seus filhos, trabalha; a relação fundamental da vida do cidadão ocorre, portanto, no município. Então comecemos por ensinar nossos alunos a acompanhar os administradores municipais, em sua atuação política; comecemos por ensiná-los a conviver com a realidade concreta dos municípios, pelo conhecimento da vida política, administrativa, cultural e social de onde ele vive. Será através desse conhecimento que o cidadão poderá dimensionar sua real parcela de influência na transformação da realidade vivida. Tal envolvimento o levará à compreensão de sua importância e papel na transformação dos rumos da nação. RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola: o transitório e o permanente na educação. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1992, p. 43.
Como bem esclarece DAVIS - em “As camadas populares nos livros de História do Brasil”, há sérias implicações quando não se aprova a participação popular na construção da história:
“Ao negarem a participação popular na história, os livros didáticos induzem o aluno das camadas populares a pensar que sua história não tem valor, que sua história não é história, que só as iniciativas dos grupos dominantes são dignas de registro, de estudo, são exemplos. Sendo induzido a desvalorizar o seu passado, o aluno tenderá também a subestimar o seu papel na manutenção e/ou transformação do presente, o que conduz ao fatalismo, ao sentimento de impotência de transformação do mundo, e a aceitação das elites para a direção da sociedade.” DAVIS, Nicholas. “As camadas populares nos livros de História do Brasil”. In: PINSKY, Jaime (org.), p. 104.
Deve-se conceber a História dentro de padrões plausíveis, operantes e dinâmicos, nos moldes da pesquisa proposta pelo autor deste artigo. Ela não deve ser tratada pelos estudantes como um conglomerado de informações que deve ser absorvido mediante a memorização mecânica do saber geral. Percebe-se que essa hodierna visão de História ainda não está inserida de maneira significativa na atuação escolar (planejamento de ensino, administração de aulas dos docentes, compêndios didáticos etc.). Para que haja apropriação dessa ciência, entende-se que se faz necessária a participação de alunos em projeto de pesquisa da sua história local, para que possam assim melhor compreender e se sensibilizarem com a mesma, sentindo-se verdadeiramente partícipes da sociedade, em âmbito social, político e cultural. Note-se que mecanismos tradicionais do sistema brasileiro de educação, como, por exemplo, culto a determinados sujeitos históricos (dando ênfase a acontecimentos isolados de patriotismo), unicidade (que acredita que a história tem uma única mão e/ou direção), devem ser rechaçados da educação.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda (vide citação, p. 37) ao afirmar que “[...], somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra” – faz claramente alusão à europeização impregnada em nosso território e o conseqüente teor de negatividade emanado dessa implantação da cultura européia em detrimento dos nossos valores sociais, da nossa concepção de espaço e tempo, dos nossos anseios e ideais, do nosso livre arbítrio em geral, mormente na produção dos nossos conhecimentos, na preservação das nossas raízes e identidades etc. O professor Arnaldo Pinto Júnior, tratando dessa temática (p. 37, parágrafo segundo, linhas 1-6) segue a mesma linha de raciocínio do historiador retromencionado, quando assevera que “Num mundo em que pessoas tomam como paradigmas as produções culturais europeizantes, singularidades individuais e/ou coletivas de regiões desvalorizadas pelo “olhar global” são varridas por concepções uniformizadoras. [...]”.
“A evolução histórica é desigual [...]. A desigualdade de desenvolvimento leva a compreender o fracasso das transferências de modelo. É perda de tempo tentar implantar artificialmente, uma certa formação social, estruturas e elementos de vida coletiva tomados de empréstimo a uma outra formação social, com a finalidade de moldar a primeira a partir da segunda. O enxerto é rejeitado.” CHESNEAUX. Jean. Devemos fazer tábula rasa do passado? São Paulo: Ática: 1995 (p. 161)
Anote-se, por fim, que é extremamente relevante inferirmos desse contexto que o estudo da História não é uniforme, que a classe dominante não pode elidir a integração dos agentes sociais (indivíduos, classes sociais ou grupos), seja qual for o tipo de participação na comunidade, nem tampouco privar o cidadão de sua reflexão, de seu pensamento.
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